Canabinoides e pediatria: o que dizem os estudos mais recentes

Nos últimos anos, a discussão sobre o uso de canabinoides na pediatria tem ganhado cada vez mais destaque. Uma revisão sistemática publicada em 2024 na revista Medical Cannabis and Cannabinoids reuniu as principais evidências científicas recentes sobre o tema, analisando estudos realizados entre 2019 e 2023.

O que a ciência já sabe até agora

A revisão analisou 10 estudos envolvendo crianças e adolescentes com menos de 21 anos, abrangendo condições como:

  • Transtorno do espectro autista (TEA) – foco de 4 estudos;
  • Epilepsia resistente a tratamentos convencionais;
  • Síndrome de Sturge-Weber (SWS);
  • Câncer pediátrico.

Os trabalhos incluíram ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais, séries de casos e até entrevistas qualitativas com pacientes e familiares.

Resultados mais promissores

Um dos destaques foram os ensaios clínicos controlados em crianças com TEA. Ambos apontaram melhora significativa em escalas validadas para sintomas relacionados ao autismo, quando tratados com formulações contendo CBD e THC em proporções específicas.

Em pacientes com epilepsia resistente, foram observadas reduções nas crises, enquanto em crianças com câncer, relatos de pais indicaram benefícios no controle de náusea, dor e apetite, especialmente durante tratamentos quimioterápicos.

De forma geral, os efeitos adversos relatados foram leves a moderados, como tontura, cefaleia e alterações no apetite, estando presentes em cerca de 25% dos participantes.

Limitações dos estudos

Apesar dos resultados encorajadores, os autores reforçam que ainda existem importantes limitações:

  • Amostras pequenas, muitas vezes com menos de 100 participantes;
  • Poucos estudos com grupo controle;
  • Falta de dados de longo prazo, especialmente sobre segurança neurocognitiva;
  • Variedade de formulações utilizadas, que nem sempre refletem os produtos hoje disponíveis no mercado.

Perspectivas futuras

A revisão conclui que os canabinoides podem representar uma opção terapêutica promissora como adjuvante em condições específicas da pediatria, sobretudo no TEA e na epilepsia de difícil controle. Entretanto, mais ensaios clínicos robustos são necessários para que seu uso seja incorporado às diretrizes médicas com segurança.

Setembro Amarelo

Embora o foco do artigo seja pediátrico, os achados dialogam com uma pauta maior: a saúde mental. Muitos dos estudos analisados investigam sintomas de ansiedade, irritabilidade e dificuldades de interação social em crianças com TEA: temas que também se conectam ao debate sobre prevenção do sofrimento psíquico, tão lembrado no Setembro Amarelo.

Promover conhecimento baseado em evidências sobre terapias inovadoras, como a medicina canabinoide, é fundamental não apenas para médicos, mas para toda a sociedade. A informação segura pode ajudar famílias, profissionais e gestores de saúde a tomarem decisões mais conscientes.

Acesse o estudo completo aqui!

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