Canabinoides despontam como aliados na saúde do idoso em meio ao avanço das doenças crônicas

O Brasil está envelhecendo rapidamente. E com isso cresce também a incidência de doenças crônicas e degenerativas. Segundo projeções do IBGE, a população com mais de 60 anos deve ultrapassar 30% do total até 2050, o que representa mais de 60 milhões de brasileiros. A tendência desafia o sistema de saúde e reforça a necessidade de estratégias que vão além do tratamento farmacológico convencional.
Pesquisas recentes têm apontado que os canabinoides, substâncias derivadas da planta Cannabis sativa, podem ter papel relevante na promoção do envelhecimento saudável. Eles atuam diretamente no controle de sintomas associados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como dor, insônia, ansiedade, depressão e distúrbios neurodegenerativos.

Um novo olhar para o envelhecimento
O avanço da idade está associado a um processo conhecido como “inflamação crônica de baixo grau”, em que o sistema imunológico permanece em alerta constante, contribuindo para o desenvolvimento de doenças como artrite, diabetes tipo 2, hipertensão e Alzheimer.
De acordo com pesquisadores da Frontiers in Aging Neuroscience, essa resposta inflamatória está relacionada à diminuição da atividade do Sistema Endocanabinoide (SEC). Esse declínio, conhecido como hipofunção endocanabinoide, pode contribuir para desequilíbrios fisiológicos.
A fisiologia do envelhecimento e o Sistema Endocanabinoide
O Sistema Endocanabinoide (SEC), composto pelos receptores CB1 e CB2, endocanabinoides endógenos e enzimas reguladoras, exerce papel crucial na homeostase – o equilíbrio interno do organismo. Ele regula funções como sono, apetite, humor, dor, imunidade e neuroproteção.
Com o envelhecimento, há uma redução progressiva da atividade do SEC, especialmente da expressão de receptores CB1 em áreas cerebrais relacionadas à cognição e da sinalização CB2 em tecidos periféricos e imunes. Essa hipofunção endocanabinoide tem sido associada a distúrbios como neurodegeneração, inflamação crônica e declínio metabólico.
A modulação desse sistema por meio de fitocanabinoides, como o canabidiol (CBD), tem se mostrado uma estratégia promissora para restaurar o equilíbrio fisiológico e reduzir o impacto das doenças crônicas associadas ao envelhecimento.
Evidências em expansão
Estudos clínicos e pré-clínicos apontam que o CBD e o THC – os dois principais compostos ativos da planta – exercem efeitos anti-inflamatórios, ansiolíticos e neuroprotetores, com potencial de impacto na saúde do idoso e em doenças crônicas.
Pesquisas conduzidas na Europa e no Canadá mostram que o uso de CBD pode reduzir a dor neuropática e a rigidez articular em pacientes com artrite reumatoide e fibromialgia. Outras investigações indicam melhora na qualidade do sono e na redução da ansiedade em idosos, sem os efeitos sedativos observados com medicamentos tradicionais.
Há também evidências emergentes sobre o papel dos canabinoides na neuroproteção, com estudos experimentais sugerindo que o CBD pode diminuir a inflamação cerebral e o acúmulo de placas de β-amiloide, associadas à doença de Alzheimer.
Embora o uso ainda seja considerado adjuvante, e não substitutivo, médicos relatam benefícios clínicos em pacientes que enfrentam dor crônica, distúrbios do sono e sintomas ansiosos resistentes a tratamentos convencionais.
Potencial e cautela
Especialistas defendem que o uso médico dos canabinoides seja feito com acompanhamento profissional e prescrição individualizada. “O idoso é mais sensível aos efeitos colaterais e às interações medicamentosas. É essencial considerar o histórico clínico e os medicamentos em uso, antes de iniciar qualquer terapia”, alerta a médica Juliana Bogado, diretora da EndoPure Academy e pesquisadora em medicina canabinoide.
Segundo ela, o canabidiol tem perfil de segurança favorável e pode contribuir para reduzir o número de medicamentos utilizados por idosos com múltiplas condições crônicas. “O grande desafio é transformar o potencial terapêutico em protocolos clínicos sólidos, com base em evidências e acompanhamento contínuo”, afirma.
Uma nova fronteira para o envelhecimento saudável
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o envelhecimento ativo como a otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança para melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem.
Nesse cenário, o uso controlado e científico dos canabinoides surge como uma alternativa integrativa para promover bem-estar e autonomia. Mais do que tratar sintomas, a medicina canabinoide propõe restaurar o equilíbrio fisiológico, algo essencial para enfrentar os desafios do envelhecimento no século 21.
Entenda: o que é o Sistema Endocanabinoide
O Sistema Endocanabinoide (SEC) é uma rede de sinalização celular presente em todo o corpo humano. Ele atua na regulação de funções essenciais como sono, humor, apetite, imunidade, dor e inflamação.
Esse sistema é composto por três elementos principais:
- Endocanabinoides: moléculas produzidas naturalmente pelo corpo, como a anandamida e o 2-AG.
- Receptores canabinoides: proteínas localizadas nas membranas das células. Os principais são CB1, presente no sistema nervoso central, e CB2, mais abundante no sistema imunológico.
- Enzimas: responsáveis por sintetizar e degradar os endocanabinoides após sua ação.
Com o envelhecimento, há uma redução na produção e eficiência desses compostos, o que pode contribuir para desequilíbrios fisiológicos e aumento da inflamação. Substâncias como o canabidiol (CBD), derivadas da Cannabis sativa, atuam modulando essa rede, ajudando a restaurar o equilíbrio interno (homeostase) e a reduzir processos inflamatórios.
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