O uso de Tetrahidrocanabinol na pediatria

Na última década, a discussão sobre o uso de canabinoides em contextos médicos ganhou força, especialmente quando se trata de condições que afetam crianças. Embora os canabinoides tenham mostrado potencial em adultos, sua aplicação na pediatria permanece envolta em controvérsias e incertezas. Uma análise do uso de tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) em um centro pediátrico na Áustria, divulgado pelo artigo Tetrahydrocannabinol in Pediatrics: Room for Improvement?, publicado originalmente no periódico europeu Medical Cannabis and Cannabinoids, revelou não apenas a complexidade do tratamento de crianças gravemente enfermas, como também destaca a necessidade urgente de protocolos de segurança adequados.

1. O que sabemos sobre o Tetrahidrocanabinol?

O Δ9-tetrahidrocanabinol, ou Δ9-THC, é o principal composto psicoativo euforizante encontrado na planta de cannabis. Ele interage com o sistema endocanabinoide do corpo humano, principalmente com os receptores canabinoides no sistema nervoso central. Esses receptores, quando ativados, podem promover efeitos como analgesia e redução da inflamação. Mas, e quanto aos efeitos colaterais? Esses também podem ser significativos, levando a mudanças na percepção e no estado de humor.

Comparação com o CBD

Embora o Δ9-THC seja euforizante, o canabidiol (CBD) não é. O CBD é conhecido por suas propriedades terapêuticas, mas não altera a percepção. Essa é uma diferença chave. Ambos os compostos foram bastante estudados em laboratório, mas suas aplicações e efeitos no corpo são bastante diferentes. Isso pode levantar a questão: “qual deles é mais seguro para uso pediátrico?” Essa questão tem sido debatida, pois o Δ9-THC é frequentemente utilizado em contextos paliativos, enquanto o CBD é normalmente considerado para suas aplicações mais seguras.

Histórico da pesquisa em pediatria

A utilização de canabinoides na pediatria ainda é um campo em desenvolvimento. Embora a pesquisa esteja se expandindo, muitos dados estão ausentes. A maioria das evidências disponíveis concentra-se em adultos. Contudo, a administração de Δ9-THC já foi observada na pediatria para tratar casos de câncer e doenças genéticas, entre outros. Pesquisas indicam que os canabinoides endógenos, como a anandamida e o 2-araquidonoilglicerol, desempenham papéis na regulação de várias funções corporais. Uma pesquisa sobre o uso de Δ9-THC em crianças é crucial, especialmente quando consideramos seu potencial de efeitos colaterais em uma idade tão sensível.

2. Dados da pesquisa na Áustria

O estudo sobre o uso de Δ9-THC na Áustria entre 2016 e 2018 apresenta uma análise retrospectiva que revelou que apenas 32 pacientes foram tratados com este canabinoide. A pesquisa focou na administração de Δ9-THC em uma unidade pediátrica de um grande centro médico na Áustria. Os pacientes avaliados tinham uma média de 9,42 diagnósticos cada, o que indica um quadro clínico complicado. Além disso, a média de medicamentos concomitantes era de 13,52 por paciente. Essa combinação de medicamentos reforça a gravidade das condições que eles enfrentaram.

Perfil de pacientes

  • Número total de pacientes tratados: 32
  • Principais diagnósticos:
  • Câncer: 28,1%
  • Doenças genéticas: 21,9%

Os dados indicam que muitos pacientes estavam em tratamento paliativo. Philipp Steurer, um dos autores do estudo, ressalta que “a maioria dos pacientes tratados estava em um contexto paliativo, o que indica a gravidade de suas condições.”

Indicações de uso

O uso de Δ9-THC foi predominantemente relacionado a condições diversas. As principais restrições incluídas foram:

  • Controle da dor
  • Estimulação do apetite
  • Tratamento de sintomas associados a doenças crônicas

Essas informações levantam a questão: será que a administração de Δ9-THC em crianças e adolescentes é adequada e segura? A falta de dados sobre dosagem e duração do uso indica que ainda existem muitos riscos envolvidos. É essencial discutir as implicações dessas descobertas. A pesquisa ressalta a urgência de estudos mais específicos e uma documentação adequada para garantir o bem-estar dos pacientes tratados com Δ9-THC.

3. Desafios e considerações: segurança do paciente em foco

O uso de Δ9-THC em crianças é um tópico que gera intensa discussão. Quais são os riscos à saúde envolvidos? Os efeitos adversos mais comuns incluem prejuízos e alterações no apetite. Estes efeitos são especialmente preocupantes em pacientes jovens e vulneráveis. Ao administrar este composto, é crucial considerar o impacto que pode haver no desenvolvimento infantil.

Importância da documentação

A documentação e o monitoramento contínuo são pontos centrais neste debate. O tratamento com Δ9-THC muitas vezes carece de informações claras sobre dosagens e recomendações de uso. Sem dados robustos, fica difícil garantir que os medicamentos sejam administrados de maneira segura e eficaz. Como saber se o tratamento está funcionando se os dados não são registrados adequadamente?

Dados sobre Δ9-THC em tratamento paliativo

Para ilustrar os desafios e considerações, a pesquisa apresenta alguns dados relevantes:

DadosValores
Média de dosagem administrada2,61 mg/dia
Pacientes em tratamento paliativo12,5%

Esses dados refletem que apenas uma fração das crianças em tratamento recebe Δ9-THC, principalmente em contextos paliativos. É evidente que a discussão precisa avançar e a pesquisa deve ser aprofundada. Afinal, a segurança dos pacientes deve sempre ser a prioridade máxima.

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