A complexidade do diagnóstico do autismo: um olhar humanizado
Receber o diagnóstico de um filho com autismo é algo que pode mudar a vida de uma família. Neste artigo, exploraremos as nuances do diagnóstico e do tratamento do autismo, enfatizando como uma abordagem humanizada pode fazer toda a diferença. Conversamos com a médica Fernanda Guedes, pediatra especializada em neurologia infantil referenciada pela Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) e fundadora da Escola Sem Neura, para aprofundar neste assunto que impacta a vida de tantas pessoas.
Impacto nas famílias
Receber um diagnóstico de autismo pode ser um momento de grande transformação. As mudanças nas dinâmicas familiares são inevitáveis e muitos sentimentos podem surgir entre os membros da família. Alguns dos mais comuns incluem tristeza e impotência. Pais, mães, avós, irmãos, todos podem se sentir perdidos e sem direção. Isso acontece porque:
- a comunicação inicial nem sempre é clara;
- as expectativas de cura ou melhoria podem ser frustradas;
- a adaptação à nova rotina é desafiadora.
O papel crítico dos pediatras no suporte familiar
Dra Fernanda acredita que os pediatras desempenham um papel fundamental nesse cenário. Eles são muitas vezes as primeiras pessoas a dizer oficialmente o que está acontecendo.
Pesquisas revelam que 85% das famílias relataram sentir tristeza e angústia após a comunicação do diagnóstico. Além disso, 60% disseram que a relação conjugal foi afetada. Essas estatísticas ajudam a entender a gravidade do impacto.
É necessário que os pediatras escutem as preocupações das famílias. “Essa escuta pode fazer toda a diferença. O suporte deve ser mais humano e acolhedor. O desafio torna-se maior quando os profissionais falham na consideração do sofrimento emocional que acompanha o diagnóstico”, afirma a médica.
Comunicando o diagnóstico: uma arte que requer sensibilidade
“Nem sempre esses sentimentos são externos durante uma consulta; podemos destruir uma família com nossas palavras”
Estudos mostram que 70% das famílias sentem que as informações recebidas no consultório foram insuficientes. Além disso, 65% consideram que a abordagem do médico foi fria. Para Dra Fernanda, “esses dados ilustram como padrões inadequados de comunicação podem afetar os níveis de bem-estar emocional das famílias. Quando os médicos não se comunicam de forma clara e empática, pode haver um efeito devastador”.
Estratégias para uma comunicação eficaz
Dra Fernanda Guedes elenca alguns pontos cruciais para o momento da comunicação do diagnóstico:
- O ambiente da consulta: criar um espaço acolhedor pode fazer toda a diferença. Um consultório que transmite conforto ajuda a gerir os ânimos.
- Evite jargões técnicos: usar uma linguagem acessível evita que os familiares se sintam alienados.
- Utilização de recursos visuais: materiais informativos podem facilitar a compreensão do diagnóstico e das opções de tratamento.
- Promover o diálogo: manter um canal aberto de comunicação é fundamental. Os médicos deverão se mostrar disponíveis para ouvir e responder às dúvidas que surgirem.
O momento da comunicação do diagnóstico deve ser tratado com a devida delicadeza e atenção. Cada palavra contada pode impactar profundamente a vida da família. Quando a comunicação é feita com cuidado, pode-se transformar uma experiência angustiante em um processo de compreensão.
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Dicas práticas para um atendimento humanizado
“Muitas vezes, o que angustia a família é algo que não está passando pela nossa cabeça.”
O atendimento humanizado, especialmente no contexto de saúde, é vital. Mas, como tornar esse atendimento realmente acolhedor? Com sua vasta experiência clínica, Dra Fernanda dá algumas dicas práticas e estratégicas para o médico obter sucesso.
Criando um ambiente acolhedor e seguro
- Decoração amigável: cores suaves e ilustrações alegres podem ajudar.
- Música suave: sons tranquilos podem diminuir a tensão.
- Espaço acolhedor: mobiliário confortável faz a diferença.
Antecipação e preparo para consulta
- Comunicação prévia: envie lembretes e informações antes da consulta.
- Instruções fornecidas: explique claramente o que a família deve trazer.
Interação lúdica e educativa com as crianças
- Brinquedos e jogos: eles podem ajudar na avaliação.
- Atividades educativas: fomentam o aprendizado de maneira divertida.
Envolvimento da família em terapias e atividades diárias
- Participação nas sessões: a presença de familiares ajuda a criar vínculos.
- Atividades em casa: práticas de incentivo que promovam a continuidade dos cuidados.
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